quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Andrade e Morettin

Habitacão Sustentável em aço - Living Steel


O escritório brasileiro Andrade Morettin Arquitetos Associados recebe o prêmio pelo seu projeto de habitação em aço e um contrato com a organização Living Steel para construir o projeto vencedor em Recife, em 2008.
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O concurso: O Living Steel é um programa mundial, criado em fevereiro de 2005 por 11 grandes grupos siderúrgicos para estimular a inovação nos projetos e na construção de habitações para responder ao desafio global da urbanização crescente. Os escritórios foram desafiados a desenvolver abordagens inovadoras para construção sustentável usando aço para responder às aspirações econômicas, ambientais e sociais de uma população mundial em crescimento. A implantação de boas práticas e inovação em design e construção em aço foram determinantes para demonstrar o valor oferecido pelo aço como alternativa para atender às demandas da questão habitacional.
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Implantação
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Planta Tipo
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Corte Transversal
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Sequência de montagem
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Detalhes da Estrutura ./a>


Desempenho Bioclimático

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Sistema Hidráulico

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Aquecimento solar
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Componentes

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Reaproveitamento
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O ENFOQUE

Acreditamos que a consciência a respeito do Global Warming e as conseqüentes medidas que disso resultam, configuram uma nova ordem Mundial. Consequentemente, entendemos que a questão proposta pelo concurso exige um pensamento abrangente capaz de verificar (especular) qual será o papel da arquitetura neste novo contexto e a quais parâmetros deve se referir.

Pensamos desenvolver um modelo arquitetônico cuja essência consiste em responder de forma direta e econômica a estes parâmetros, ou seja, não apenas se adequar às questões de sustentabilidade ambiental e social, mas ter sua própria concepção originada e contida nestes parâmetros: uma “Arquitetura Essencial”.

Sua beleza consiste na capacidade de revelar estes conceitos: está de tal forma vinculada a seu contexto que não pode ser entendida fora dele: é exposta a estes parâmetros que esta arquitetura se revela.

A NOÇÃO (DEFINIÇÃO) DE LUGAR

Acreditamos que a arquitetura deve ser concebida para o lugar, adequada a seu contexto específico. Cabe, portanto, determinar qual será a noção de lugar adotada para o projeto.

Pareceu-nos que se trata de projetar, não apenas para um lote específico em Recife, mas também apontar caminhos para o importante problema habitacional de uma realidade específica do planeta; uma faixa que é identificável, não por sua delimitação geopolítica e sim por suas características bioclimáticas.

Trata-se da Zona tropical úmida, que ocupa quase 50% de toda região intertropical do planeta. Caracterizada pela intensa insolação; pelo alto índice pluviométrico, altas temperaturas com pouca flutuação e grande umidade.

Além das afinidades climáticas alguns fatores sócio-culturais em comum despontam. Estão entre eles: a condição econômica no cenário mundial (muitos países “em desenvolvimento” estão estabelecidos nesta faixa) a crescente urbanização de suas sociedades, a carência habitacional em meio a grande pressão do crescimento populacional.

Dentro desta faixa é possível identificar tipologias arquitetônicas locais com características que se repetem e que nos dão alguns elementos essenciais para a aclimatação das edificações.

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O meio urbano de Recife – Pernambuco

Com uma notável rede hidrográfica a sub-região costeira apresenta uma relação instável entre o solo e a água e é comum a ocupação de terras baixas, periodicamente inundáveis.

Para adequar-se a este contexto pensamos edificações sobre pilotis (palafitas) com estruturas leves que não extrapolem a capacidade de carga do solo.

No caso específico do loteamento proposto com quatro pavimentos podemos garantir o adensamento desejado de forma saudável evitando ainda a necessidade de mecanização da circulação vertical, respeitando as severas restrições orçamentárias.

A ampla ventilação cruzada dos edifícios, além de atender às exigências de conforto próprias maximiza o fluxo de ar que atinge os edifícios situados a sotavento.

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OS (7) PARAMETROS
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1 - O uso do solo
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Considerando que a qualidade do ambiente urbano na faixa tropical úmida depende em grande medida de uma boa ventilação (conforto térmico e higiênico) o modelo proposto prevê não apenas edificações “permeáveis”, mas também a implantação de blocos isolados, dispostos de maneira a permitir o permanente fluxo de ar entre as edificações.
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O aumento da densidade (considerada a baixíssima densidade dos assentamentos predominantes) conduz a um modelo mais produtivo para ocupação do território, absorvendo o crescimento populacional e contendo o avanço da mancha urbana.
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As edificações foram pensadas como um sistema que pode assumir diversas dimensões; o numero de pavimentos será reflexo da capacidade de carga do solo e da possibilidade de mecanização do edifício.
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O Paisagismo deve ser pensado integralmente com espécimes nativas, dispensando cuidados ou doses extras de água.
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2 - Desempenho bioclimático
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A Sombra e a ventilação são entendidas como recursos estratégicos essenciais, dispensando as soluções ativas ou mecanizadas como a climatização. Por esta razão os espaços são “explodidos”; vazados; fluidos. Como não há estação fria os fechamentos de vidro foram dispensados (Glass free).
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A ventilação resfria o meio e as edificações; mantém a atmosfera livre de partículas em suspensão; previne a condensação da umidade nas superfícies e a conseqüente formação do mofo.
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A cobertura, como um para-sol com grandes beirais e as varandas, além de sombrearem, garantem boa proteção contra as chuvas sem, no entanto, impedir a ventilação. A edificação é elevada do solo, sobre “estacas”, como palafitas.
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A ventilação cruzada é garantida por amplos interiores; divisórias internas à meia altura e as venezianas, desenhadas para bloquear a intensa luz solar, mas para admitir o ar francamente. A movimentação das venezianas permite controlar a velocidade do ar no interior da unidade, bem como bloquear os raios solares do poente e nascente.
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Foram adotados materiais com pequena massa ou inércia térmica (evita armazenar calor durante o dia uma vez que as noites são igualmente quentes). A adoção de cores claras também minimiza a absorção da radiação solar.
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3 - Construção e Operação
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A construção é simples, composta de poucos elementos (componentes): “Essencial”.
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A partir de uma seção transversal tipo o edifício é concebido como uma máquina (sistema) estrudável; reprodutível. Componentes pré-fabricados deverão ser simplesmente montados no local, garantindo um processo limpo e racional; uma obra seca.
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Composta por perfis de mercado a superestrutura de aço será toda aparafusada dispensando a atividade de solda in loco. O uso de painéis de laje dispensa o uso de escoramentos ou estruturas temporárias.
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A utilização de componentes industrializados acabados dispensa o uso de pintura ou outros cuidados superficiais, minimizando as atividades de manutenção.
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Quando necessário, alguns componentes podem ser substituídos e o descarte encaminhado para a reciclagem.
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A utilização de recursos passivos como responsáveis pelo funcionamento minimiza os custos e a complexidade da operação do edifício.
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4 - Materiais e recursos (Desempenho ambiental)
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O projeto busca responder à crise global principalmente através da redução. A idéia de arquitetura “essencial” prevê uma construção simples; mínima, com uso econômico de materiais (Lightness).
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Da mesma forma, tendo seu funcionamento embasado nas soluções passivas o edifício demanda um mínimo consumo de energia para funcionar e se manter.
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A geração de energia limpa in loco, porém não está descartada, de acordo com a disponibilidade financeira e o regime de fornecimento energético da região pode-se lançar mão da geração de energia Solar (fotovoltaica) na cobertura.
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Os princípios para especificação dos materiais empregados são: certificação ecológica com custo acessível (compatibilidade com empreendimento para habitação de interesse social) buscando manter um equilíbrio entre componentes da indústria de âmbito global e materiais locais.
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Alguns sistemas prediais de simples funcionamento e manutenção deverão ser implementados, tais como sistema solar para aquecimento de água e reuso de águas pluviais (devido ao alto índice pluviométrico o reuso das águas cinzas pode ser descartado).
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5 - Flexibilidade e Reprodutibilidade
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A idéia de arquitetura essencial como infra-estrutura nos levou a conceber um sistema flexível baseado na disponibilização de pisos abertos e sombreados, que como plataformas (lembrar os decks das embarcações fluviais da região) oferecem um suporte, um espaço aberto para ser apropriado.
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O Edifício, montado a partir de componentes pré-fabricados e elementos industrializados, é naturalmente apto à reprodutibilidade.
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Pensado como um sistema adequado para toda a faixa tropical úmida, o edifício tem grande capacidade para absorver a heterogeneidade e mutabilidade do uso e permitindo que possa ser reproduzido em contextos diferentes com dimensões diferentes.
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6 - Fatores Sócio-culturais
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A imponderabilidade e a velocidade com que se modificam a organização familiar, tendo como condicionantes sua religião, divisão do trabalho, valores simbólicos, dentre outros, nos levou a pensar as unidades como salões abertos, flexíveis.
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A intervenção no espaço por parte de seus usuários não é apenas permitida, mas é também encorajada: a participação na definição do espaço estimula o sentimento de pertencimento que além de promover o bem estar da comunidade propicia o envolvimento e compromisso com a preservação do lugar: fator fundamental na balança da sustentabilidade do conjunto (empreendimento).
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Varandas e circulação horizontal ao mesmo tempo em que são o lugar da sombra, da proteção das radiações solares é também espaço de vivência e encontro, estes espaços comuns são estruturadores da dinâmica do edifício e podem também tornar-se estruturadores da comunidade.
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O uso de materiais industrializados certificados, remete ao envolvimento de uma sociedade produtiva organizada, assim como a incorporação de técnicas/tradições locais traz identidade cultural ao conjunto.
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7 - Custo
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A arquitetura essencial é por sua própria natureza econômica: seja pela industrialização de sua produção, seja pelo uso parcimonioso de materiais.
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A predominância do uso de recursos naturais, como o vento ou a iluminação natural, reduz consideravelmente a necessidade de equipamentos e, portanto a quantidade de energia e de capital para a construção e operação de edifícios.A industrialização da construção promove a economia de escala além da redução no tempo de execução e do desperdício de material na obra.
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Ficha Técnica
Living Steel
Local: Recife - Pernambuco, Brasil
Arquitetura: Andrade Morettin Arquitetos
Arq. Vinicius Andrade, Arq.Marcelo Morettin
Colaboradores: Marcelo Maia Rosa, Marcio Tanaka, Marina Mermelstein, Merten Nefs, Renata Andrulis, Thiago Natal
Estrutura: Stec do Brasil
Conforto Ambiental: Ambiental Consultoria
Tecnologias Ambientais: Ecocasa – Tecnologias Ambientais
Orçamento: Tríade – Serviços Técnicos
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