quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Diário de bordo do 13º ENGEARQ

SARAVÁ MEU PAI!!! (nos bastidores do 13º ENGEARQ)

José Wolf¹

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Estava escrito nas estrelas: esse encontro deveria ser especial. E foi. Graças ao idealismo do prof. Orlando Villar e da ajuda dos jovens Oliveira Jr. e Michel (Carlos), além do apoio de Cristina Evelise, presidente do IAB/PB e do CREA, aconteceu, em novembro, o 13º Encontro de Arquitetura e Engenharia da Paraiba. Antenado, Oliveira Jr, por sinal, acabou se transformando no coringa desse enigmático XIII Engearq.



Encontro marcado por imprevistos, contratempos, desafios e descobertas. Afinal, era o 13, número, que para muitos, significa azar e, para outros, sorte. De qualquer maneira, as bruxas estavam soltas.


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Pra começo de conversa: ao chegar, o eng. Siqueira, expert em estruturas de “viadutos e pontes”, porém deselegante, espanta-se com o repórter sex-generário de bermuda. - Bermuda? - Sim, amigo. Afinal estou na Terra do Sol! Apesar de minhas canelas finas, me libertei um dia do complexo, quando descobri alguém , numa cadeira de rodas, com as pernas amputadas.


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Solenidade de abertura do XIII Engearq: Orlando Villar (UFPB), Damião Ramos (IPHAEP) e Antonio Francisco (IAB-PB)
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À noite do dia 20, a abertura do Encontro, no Espaço Cultural, projetado pelo saudoso Sérgio Bernardes. A palestra de abertura coube ao militante Ângelo Arruda, presidente da FNA. Que ao questionar a política habitacional oficial, levantou o astral de cerca de 300 participantes inscritos, marcando o eixo temático do evento. Ou seja: a questão da habitação social, tão ausente nos compêndios acadêmicos universitários. Tema enfocado, também, pelo lúcido Marco Suassuna, parente do festejado dramaturgo Ariano Suassuna.
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Palestra de abertura: Ângelo Arruda (FNA)
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A meu lado, silencioso, o franciscano Amaro Muniz revela o drama de saúde familiar que enfrentava. E, também, o amigo outsider Isnard Barroso e o admirável, mas humilde, Gilberto Guedes. Mas, senti falta de Bethânia Tejo, Sandra Moura, Hélio Costa, da doce Dayse Cunha e do indomável Fábio Queiroz, além da inesquecível guerreira Jussara Dantas (in memoriam), de Paulo Macedo e do ilustre José Nivaldo Ribeiro, por meio de quem conheci Expedito de Arruda. Senti, ainda, a falta dos arquitetos alagoanos Mário Aloísio e Ruben Wanderley, além da pernambucana Vera Pires, que sempre marcaram presença em encontros anteriores. Em compensação, descubro novos amigos, entre os quais Elisana Dantas e Leila D´Ángela , autoras do projeto de revitalização premiado “capela de N. Sra. da Graça”, além de Ricardo Vidal e da simpática dupla Livia Loureiro e Davi de Lima.
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A lamentar, apenas, a ausência de uma homenagem ao inesquecível mestre Acácio Gil Borsoi, formador de tantas gerações de arquitetos do Nordeste, que faleceu aos 85 anos, no dia 4 de novembro, em São Paulo, onde se tratava.
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Profissionais e estudantes marcam presença no auditório do cine Banguê.
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O argentino Jorge Mário Jáuregui e a portuguesa Joana Vieira em primeiro plano. Na diagonal à direita o inventor Reginaldo Marinho, em segundo plano.
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Na manhã do dia 21 (sábado), acabei me perdendo na periferia de João Pessoa, ao visitar um mercado popular em busca do feijão de corda, do colorau e da celebrada cachaça Triunfo, cuja garrafa ofereci ao cadeirante Hélio, que vive , também, na famosa Cracolândia, em São Paulo, onde sobrevivo, entre tantos nóias (consumidores de crack).


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De repente, outra notícia inesperada: o principal convidado do encontro, o arq. chileno Alejandro Aravena e família são hospitalizados, sob os cuidados do incansável Orlando Villar e equipe, como a atenciosa Maria José ( além de Michel e família). Por coincidência, foi atendido por um médico (Epitácio Vidal) pai do premiado Ricardo Vidal (centro empresarial Avenida Epitácio Pessoa).



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Aleluia. Com a ajuda de Michel, que o acompanhava, consegui registrar um breve depoimento seu, já que estava a postos com o gravador à mão no hall do hotel Hardman, quando chegou de sopetão Breve, Aravena declarou: “Wolf, só diria uma coisa: que os jovens arquitetos brasileiros lutem para resgatarem os valores da arquitetura brasileira dos anos 50 e 60, que tanto encantou o mundo, incluindo arquitetos da América Latina entre os quais, eu” . Cordial, Michel me oferece dois cajus aromáticos, um dos símbolos do Nordeste celebrados numa das canções de Alceu Valença.


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Elisabetta Romano, Alejandro Aravena, Marco Suassuna e Jovanka Scocuglia.
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Dia 22. Um dia iluminado, com a presença de Tereza, Marco Antonio Borsoi e Bonna, neta de Acácio Gil Borsoi, que completava oito anos de idade. A ela, ofereci um sorvete de chocolate que adorou. Eles estavam hospedados no hotel Verde Green, projeto ecológico de Roberta Borsoi e Janete Costa (interiores). Após uma caminhada pela praia, telefono para eles, convidando-os para almoçarem comigo no hotel Hardman, projetado por Paulinho Macedo, elogiado (principalmente pelas fachadas laterais) por Mario Biselli, quando passou por aí.



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Jamais, poderia imaginar que fosse um dia tão fantástico, com a presença no almoço de Mario Jauregui, Joana Vieira, Zeca Brandão, Arruda, entre outros participantes do evento. Antes disso, a visita ao edifício Parália, de autoria do competente trio: Antônio Cláudio Massa, Ernani Jr e Silvia Muniz.


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No Espaço Cultural, a cerimônia de encerramento desse inesquecível Encontro, sob a batuta de Olveira Jr., já que o mestre Orlando Villar se ausentava por problemas de saúde. Depois da mesa-redonda, me cruzo com a incrível Amélia Panet e sua irmã Myriam. Um evento, que apesar de tudo, acabou em alto estilo.

.Mesa redonda: Ângelo Arruda, Jorge Jáuregui, Expedito Arruda e Zeca Brandão.


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À noite, numa pizzaria, a convite do generoso Expedito de Arruda, outro ágape. Com direito a um bom vinho degustado em taças de cristal que me lembraram o Santo Graal. Entre os presentes, Ernani, A. Cláudio, Oliveira e os neófitos Davi e Lívia. Emocionados, confessam; “jamais, poderíamos imaginar que João Pessoa já recebeu tantos arquitetos renomados, como Mario Botta, Álvaro Siza, Eduardo Souto Moura, Juvenal Baraco, além dos arquitetos Paulo Mendes da Rocha, Ruy Ohtake, Gasperini, Rosa Kliáss, Marcelo Ferraz, Fábio Penteado ou Ciro Pirondi”.


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Oliveira Júnior, Alejandro Aravena, Lívia Loureiro e Davi de Lima.




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Dia 23: de manhã, visita ao escritório de Expedito de Arruda, para registrar seu depoimento sobre um possível documento que pretendo publicar, com a colaboração do Oliveira, acerca de sua marcante trajetória profissional. A seu lado, Fred Svendsen, que me ofereceu, gentilmente, uma brochura sobre sua fantástica obra, com prefácio do poeta Ferreira Gullar. Aliás, Svendsen, na minha opinião, é a tradução , em sua atormentada pintura figurativa, do escritor argentino Luiz Borges.


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De volta ao hotel, acertando as contas e à espera da vam que nos levaria até o aeroporto, outro problema. Por um equívoco, a minha passagem (traslado) foi definida em função do horário da passagem de outros convidados, às 15 horas, enquanto o meu era às 13 horas. Resultado: embarque cancelado.


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O que fazer? Com a paciência de ex-seminarista, consulto o livro “Alegria e Triunfo”. Ao abri-lo, a mensagem: “o atraso é amigo “! Muy amigo. Resultado: quase oito horas de cadeira no aeroporto (Castro Pinto), onde vivi experiências jamais imaginadas. Um aeroporto, por sinal, carente de serviços. Que vive de altos e baixos como as ondas do mar.


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Fumante (me desculpem), estava sem cigarro, até que aparece um segurança, no horário de sua folga, me oferecendo um cigarro. Alívio. E, de repente, começa a falar sobre a construção de sua casa nos arredores da capital paraibana. E sobre os entraves burocráticos enfrentados para legalizar sua moradia. Depois, surge um motoqueiro, que graças a uma gorjeta , foi buscar um Carlton para mim.


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À certa altura, um grupo de funcionárias, evangélicas , me cercam para me abençoar. Durante o check- in, uma criança num carrinho, sorri para mim, confundindo-me, talvez, com o papai- noel E me oferece um pedaço do biscoito que consumia. Sem dúvida, uma lição! Com certeza, as crianças nos ensinam mais que os livros!


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Toques:




  1. não deixem de assistir ao filme “crepúsculo:lua nova”;

  2. Não se esqueçam dos 102 anos do mestre Niemeyer no dia 15 de dezembro, autor, entre tantos projetos, do belíssima Eestação Cabo Branco, Ciência, Cultura e Arte, que já virou cartão postal. Ao entrevistá-lo, em 1986, quando editor da revista AU, ele lamentava: “quanto mais se vive mais amigos a gente vê partir”!;

  3. E não deixem de ler o livro “As Cidades Vivas, viva as Cidades”, do instigante e provocador Sérgio Teperman. Que resultou de seus artigos escritos para a AU na seção intitulada“espaço de sobra”; _

  4. Não se esqueçam, ainda, do toque de Paulo Coelho, no livro “O alquimista”, ao confessar” descobri que a linguagem simbólica, que tanto me irritava e me desnorteava, era a única maneira de se atingit a alma do mundo”;

  5. E principalmente, dêem a vocês maior valor. Mesmo que não sejam tão divulgados pela mídia sulista.



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    Para concluir: um feliz natal e um 2010 com mais pão, moradia e menos panetone para todos vocês !


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1. José Wolf é jornalista, co-fundador da Revista AU e atual editor do boletim do IAB-SP.



Trecho do e-mail enviado por José Wolf para o ArqPB:


Caro Oliveira, (...) segue texto para possível publicação no seu elogiado blog, que começa a explodir, abrindo um novo canal de comunicação e conexão para os arquitetos do Nodeste, parabéns!


Com abração,


Wolf

7 comentários:

  1. Salve, Oliveira,

    Muito oportuna a publicação desse texto personalíssimo, claro, que ajuda a transmitir o espírito do evento e de suas redes sociais e, principalmente, afetivas, que se consegue estabelecer.

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  2. Com certeza George. Rede essa que vem sendo construída e consolidada nos últimos 10 anos e que, como você bem enfatiza, já extrapolou o campo profissional para regozijar-se na esfera afetiva.

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  3. Um texto com prosa, alma e cheiro de João Pessoa. Com certeza, encontros como este engrandecem não só os espectadores, como também que vive nos bastidores. Parabéns pela organização e qualidade dos arquitetos convidados.

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  4. Marina,
    Wolf tem o mérito de impregnar seus textos com a emoção dos acontecimentos. Nós, da terra do sol, possuímos o espírito acolhedor e a verve dos obstinados.

    O que não foi comentado é que o chileno Alejandro Aravena ficou tão encantado com a Paraíba que revelou o desejo de passar as férias de janeiro numa praia do litoral sul e até de adquirir uma residência de verão por aqui.

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  5. Arrasou! Morri de rir, ele escreve de um jeito engraçado... agente vai se lembrando de como as coisas aconteceram... eu nem tinha reparado no 13!!! Será q foi por isso que todo mundo ficou doente?!?
    No fim deu certo!
    Parabéns por mais esse ano de empenho no blog Oliveira! Que 2010 seja tão cheios de novidades quanto foi 2009!

    E Feliz aniversário para o Mestre Niemeyer! 102!

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  6. Jose´Wolf sempre valorizando e incentivando a produção arquitetônica da Paraíba....
    Parabés e obrigado , Wolf

    Isnard Barroso

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  7. Como numa retrospectiva excepcionalmente bem cantada e contada eu diria que ao fim do texto o que resta é a satisfação de ter presenciado a história acontecer para a arquitetura pessoense.
    Que 2010 seja tão marcante quanto.
    Abraços

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