quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Museu do Amanhã - Santiago Calatrava

Compromisso com o quê?
Oliveira Júnior¹


O sorriso de calatrava reflete um certo deslumbramento quase pueril diante do protótipo da sua mais recente criação: o Museu do Amanhã. Ainda embasbacados como crianças, insistimos em nos admirar com o novo brinquedo que acabamos de ganhar. Ou pelo menos nos prometeram!
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Aparentemente mais uma magnífica obra de um dos arquitetos de maior renome internacional, eleito em 2005 pela revista americana Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Quem ousaria questiona-lo?
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Em 30 segundos o espetacular vídeo de apresentação da proposta remonta a evolução urbana do Rio de Janeiro e dedica pouco mais de 2 minutos para fazer um passeio aéreo pelo entorno da maquete do edifício do Museu. Os diversos ângulos de visão do mar em direção à costa são estonteantes e tem sempre como ponto focal, obviamente, a "delicada" estrutura do Museu.
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Estrutura essa dotada de painéis articulados que se movem de acordo com a posição do sol ao longo do dia. Acostumado a se inspirar em formas orgânicas para desenvolver seus projetos, não me admiraria se Calatrava tivesse resgatado, em nível subliminar, o desenho e o comportamento da folha da Malícia ou Mimosa invisa para conceber o partido do Museu do Amanhã.

 


Retomando a percepção fornecida pelas imagens da área do entorno urbano é possível perceber, em alguns instantes do vídeo, uma ampla praça criando um vazio necessário para a contemplação do Museu e a transição entre o conjunto arquitetônico proposto e o existente.
Relembrando as primeiras informações divulgadas sobre o projeto, não posso deixar de me reportar a alguns fatos extraordinariamente importantes discutidos em novembro de 2008, quando o profissional cotado para desenvolver a proposta do Museu ainda era o  designer americano Ralph Appelbaum. Segundo o site JusBrasil, o Museu do Amanhã foi proposto naquela localidade com o objetivo maior de servir de elemento intermediador de uma proposta de requalificação urbana para a região portuária do Rio de Janeiro. Ainda segundo a mesma fonte, foi firmado um acordo de  cooperação técnica entre a Fundação Roberto Marinho e a Companhia Docas do Rio de Janeiro, que cedeu os armazéns 5 e 6 do Cais do Porto para serem transformados em sede do Museu e ajudar a revitalizar a região. O Goverdo carioca também cedeu o prédio da Polinter para o mesmo propósito.

O que realmente me deixou inquieto é que ficamos tão extasiados com a graciosidade do edifício que não nos demos conta de indagar sobre os méritos da proposta dentro de um contexto macro de desenho urbano. Claro que não sou ingênuo de pensar que a equipe de Calatrava não pensou em algo tão óbvio. Mais importante que o objeto arquitetônico em si é a articulação do mesmo com os demais equipamentos e usos existentes naquela região e com a cidade.
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O enfoque no edifício em detrimento do desenho urbano pode induzir a uma percepção reducionista sobre a abrangência e a importância da atuação do arquiteto como instrumento de (re)qualificação do espaço da cidade. Deste modo acredito que é de suma importância que a proposta geral de intervenção urbana seja amplamente divulgada pela mídia em geral e principlamente pela mídia especializada.
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Afinal é mister esclaracer que só se constrói um futuro para a cidade por meio de uma intervenção que estabeleça um diálogo franco com as urgentes necessidades da sociedade, respeitando-se a vocação urbana e a memória impregnada no acervo arquitetônico local.



1. Oliveira Júnior é arquiteto graduado pela UFPB, Mestre em Engenharia Urbana pelo PPGEU/UFPB e professor de projeto e urbanismo do curso de arquitetura do Centro Universitário de João Pessoa - Unipê.

Fontes:
http://www.piniweb.com.br/
www.jusbrasil.com.br

terça-feira, 29 de junho de 2010

Inspetoria do CREA-PB - Concurso Nacional

Acro Arquitetura



 
 
 

 
 
 

 
Ficha técnica:
Autores: Carol, Giuseppe Branquinho, Renan e Renata Caiaffo
Local: Campina Grande

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Fomentando uma cultura de concursos de projeto

Fabiano Sobreira (*)
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Arquitetos do "star system" contratados sem concurso para o projeto de um equipamento cultural com valor estimado em 300 milhões de reais (e valor de projeto estimado em 20 milhões), sob o pretexto da "notória especialização"[1]; políticos que se apóiam na cultura da genialidade arquitetônica para justificar monumentos indesejáveis[2]; concurso de "desenvolvimento urbano" que premia arquitetos com i-Pods[3] ; concurso internacional no Brasil que muda as regras posteriormente à entrega dos trabalhos[4]; falso concurso para eleger a imagem do país em exposição internacional[5].
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Não faltam exemplos (apenas para citar os mais recentes) para ilustrar uma simples – e histórica – constatação: a ausência de uma política pela qualidade da arquitetura pública.
A média de concursos de projeto no Brasil é de 5 eventos a cada ano, e entre estes poucos há ainda aqueles que sequer deveriam receber a denominação de "concurso", no sentido clássico do termo, que nos remete aos conceitos de democracia, transparência, ética e qualidade arquitetônica.
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Enquanto isso, a França realiza 1200 concursos a cada ano[6], a Suiça realiza 200 e outros países como a Espanha[7] e os países escandinavos (Finlândia, Noruega, Dinamarca e Suécia) nos dão demonstração de uma cultura de qualidade arquitetônica baseada nos concursos de projeto.
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Ópera de Oslo, na Noruega. Prêmio Mies van der Rohe 2009. Projeto de Snohetta, resultado de concurso realizado em 2000. Um dos exemplos do sucesso da política de qualidade da arquitetura fundamentada nos concursos de projeto.
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Qual a razão para o sucesso e freqüência do sistema de concursos em alguns países e a sua instabilidade e escassez em outros ?
Se analisarmos o histórico dos países que fizeram do concurso um instrumento cotidiano para a administração pública, observaremos que a principal razão para o seu sucesso é a existência de uma política pública baseada na qualidade arquitetônica como suporte à instituição do concurso. Nesses países a regulamentação dos concursos de projeto é apenas uma pequena parte de uma política maior, baseada na consolidação da arquitetura como objeto de interesse público.
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Conjunto habitacional Teglværkshavnen, construído em Copenhague, na Dinamarca, e que foi objeto de um concurso em 2003. Projeto do escritório Tegnestuen Vandkunsten. Prêmio Alvar Aalto 2009. A Dinamarca tem se destacado pela produção arquitetônica contemporânea, em grande parte resultante de concursos promovidos pela administração pública do país.
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Afinal, a construção de uma política pública não se limita à aprovação de leis, mas depende também da criação e consolidação de uma cultura. Desde 1993, por exemplo, a legislação federal brasileira (Lei 8666/93) define o concurso como "forma preferencial para a contratação de projetos pela administração pública". Essa preferência, no entanto, não se converteu em prática; e a realidade é a que nós conhecemos.
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Mas como construir tal política pública ?
Antes de tudo, é preciso reconhecer que esta preocupação não é nova e que existem importantes contribuições e reflexões já iniciadas, tanto no Brasil quanto do contexto internacional, e que precisam ser estudadas e discutidas. O maior erro que se pode cometer é tratar do assunto como se não houvesse todo um histórico de experiências (tanto de sucessos quanto de insucessos). Incluímos nesse repertório tanto as contribuições de profissionais e instituições que atuam ou atuaram diretamente na promoção de concursos (coordenadores, consultores, júri, promotores, concorrentes) quanto daqueles que tratam do tema como objeto de interesse acadêmico.

Projeto do escritório francês archi5, vencedor do concurso internacional para o planejamento urbano do bairro Nya Årstafältet, em Estocolmo, na Suécia. O país tem se destacado pelos concursos internacionais relacionados à arquitetura e ao planejamento urbano.
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É preciso pensar em uma política pública para a coletividade e não para os arquitetos e urbanistas; ir além dos interesses corporativos. O concurso de projeto deve ser apresentado não como um sistema que interessa à profissão, mas como um instrumento necessário à coletividade para garantir a desejada qualidade do espaço público. A valorização e o reconhecimento da profissão neste caso seria uma conseqüência natural, e não o objetivo em si. Sabemos o quanto o concurso de projeto é importante para a consolidação e o desenvolvimento da profissão. Mas isso não é suficiente para justificar o interesse público sobre o tema.
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A Espanha realizou diversos concursos para os equipamentos esportivos das Olimpíadas de Madri 2016. O projeto acima é um dos exemplos. Trata-se de projeto de um velódromo, de autoria do escritório P01 Arquitectos, vencedor de um dos concursos promovidos pela administração pública espanhola.
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Seria necessário provar para a administração pública e a coletividade que o sistema é vantajoso e que é fundamental para o atendimento do interesse público.
A questão, então, seria:
Por que os concursos de projeto são interessantes para a administração pública, e conseqüentemente para a coletividade ?
Apresentamos algumas considerações preliminares que, entre outras, poderiam ajudar a construir a argumentação necessária:
  1. O concurso prioriza o julgamento qualitativo, em detrimento do julgamento quantitativo ou pessoal – é preciso lembrar que a qualidade arquitetônica está diretamente associada aos princípios de economicidade e sustentabilidade, e não necessariamente à ostentação e à monumentalidade (não ficaria surpreso se uma pesquisa de opinião pública revelasse que estes dois últimos conceitos predominam na visão do "cidadão comum" sobre a arquitetura pública);
  2. Os princípios que orientam os concursos de projeto são os mesmos que fundamentam a gestão pública: isonomia, transparência, economicidade, publicidade, impessoalidade, democracia, entre outros;
  3. O concurso permite a avaliação e a legitimação pública de uma decisão sobre espaços e equipamentos que exigem grande investimento de recursos e que têm grande impacto na coletividade;
  4. O concurso de projeto amplia o repertório de opções e no processo de decisão sobre a melhor solução, para um contexto específico.
Mas nesse processo de construção de um argumento em prol do concurso de arquitetura e urbanismo é preciso, antes de tudo, estar disposto a reconhecer e gerenciar os conflitos de interesse em potencial e, em alguns casos, as contradições que desafiam a popularização do sistema. Provavelmente o concurso não faz parte do cotidiano da administração pública (apesar da preferência expressa em lei) por que existem preconceitos sobre o sistema que provocam insegurança entre gestores e profissionais, deixando dúvidas sobre as vantagens e eventuais desvantagens para a administração pública.
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É bom lembrar que o concurso de arquitetura e de urbanismo, apesar de ser construído a partir de um conceito universal (em que o julgamento sobre a idéia é mais importante do que julgamento sobre o profissional), pode ser colocado em prática de diversas formas. Essa diversidade de procedimentos associados aos concursos pode levar caminhos distintos (por vezes controversos), e despertar conflitos entre os que promovem, os que concorrem e os que julgam. Afinal, na gestão pública e mesmo entre os profissionais a definição sobre o melhor formato para uma eventual "regulamentação dos concursos de arquitetura e urbanismo" não é consensual[8]. Daí o constante debate em torno de alguns dilemas[9]:
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- Concurso aberto versus concurso restrito, com base em pré-qualificação;
- Concurso em uma fase, completamente baseado no anonimato versus concurso em duas fases, com a possibilidade de quebra de anonimato na fase final;
- Concurso aberto sem remuneração aos profissionais versus concurso restrito, porém remunerado;
- Júri composto exclusivamente por arquitetos e/ou urbanistas versus um júri que inclui representantes da instituição promotora e da coletividade;
- Concursos baseados em estudos preliminares versus anteprojeto;
- Formato único de concurso versus um repertório de formatações, a ser aplicado conforme o objeto a ser projetado.
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Esses dilemas não são novos, nem restritos ao contexto brasileiro. As opiniões e os argumentos são diversos, e refletem não apenas pontos de vista técnicos e conceituais, mas também os eventuais conflitos de interesse. Portanto, seja qual for o modelo (ou repertório) a ser seguido, é importante que a resposta não se limite a uma pesquisa no universo da profissão – pois corre-se o risco de mais uma vez consolidar-se o interesse corporativo, que não necessariamente corresponde ao interesse público.
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Finalmente, é essencial que o processo de construção de uma política nacional de qualidade da arquitetura e do urbanismo seja baseado nos mesmos princípios que fundamentam o próprio concurso, que são a confrontação pública de idéias, a transparência, a impessoalidade, a publicidade e a ética. E nesse processo de construção, reconhecer a diversidade de interesses que está em jogo e a experiência de cada grupo de atores, combinando a experiência prática dos profissionais, a perspectiva política e regulamentar da administração pública e a cultura reflexiva das instituições acadêmicas.  Os concursos de projeto, enfim, devem ser tratados como instrumentos de uma política maior, que tenha como fundamento a qualidade e o interesse público da arquitetura e do urbanismo[10].



[1] Veja no portal as publicações relacionadas ao episódio da Companhia de Dança de São Paulo.
[2] Veja na revista MDC os debates relacionados à Praça da Soberania.
[8] É preciso lembrar que certos profissionais que se encontram bem estabelecidos no mercado vêem no concurso uma ameaça à reserva de mercado por eles estabelecida e ao eventual monopólio de contratações que eles detêm na administração pública.
[9] Sobre os dilemas associados aos Concursos de Arquitetura, ver Rohn (2008) – Architectural Policies and the Dilemmas of Architectural Competitions.
[10] Este ensaio é uma síntese da conferência e do artigo intitulado "Concours d'architecture et d'urbanisme et les conflits d'intérêt dans la gestion de l'espace public", apresentado pelo autor na École d'architecture – Université de Montréal, em maio.2009.

(*) o autor é Arquiteto e Urbanista, PhD, Analista Legislativo da Câmara dos Deputados (Seção de Acessibilidade e Projetos Sustentáveis – Núcleo de Arquitetura) , professor e pesquisador no Dept. de Arquitetura e Urbanismo do UNICEUB, em Brasília. O presente texto foi desenvolvido como parte da pesquisa de pós-doutorado desenvolvida pelo autor no Laboratório de Estudos da Arquitetura Potencial (LEAP) -  École d'architecture de l'Université de Montréal (2008-2009).

Originalmente publicado em:
http://concursosdeprojeto.org

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Arquitetura Paulista Brutalista

Em busca dos elos da arquitetura brasileira
Oliveira Júnior¹

Recentemente tive a grata surpresa de me deparar com um valioso acervo sobre a produção arquitetônica da Escola Paulista Brutalista envolvendo suas obras mais expressivas num recorte histórico entre as décadas de 50 e 70 do século XX.   

Seguindo uma linha do tempo o leitor observa, concomitantemente às obras da escola paulista Brutalista, alguns exemplares arquitetônicos que marcaram o cenário nacional e mundial, além de flashes de fatos políticos, econômicos e culturais de cada época.  

Coordenada pela Professora Drª. Ruth Verde Zein, cuja trajetória sempre esteve associada à investigação científica e a crítica arquitetônica,  esta pesquisa selecionou um conjunto de 78 obras consideradas as mais relevantes do período, de acordo com os critérios definidos na tese de doutoramento “A Arquitetura da Escola Paulista Brutalista 1953-1973 (PROPAR-UFRGS, 2005) e na pesquisa para um pós doutoramento “Obras Exemplares da Arquitetura Paulista Brutalista” da mesma arquiteta.
Foto: Ruth Verde Zein
Fonte: www.revistaau.com.br
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Segundo informações do site  http://www.arquiteturabrutalista.com.br/a publicação desse material de consulta tem como objetivo ampliar a divulgação da arquitetura paulista, e brasileira de uma maneira geral, permitindo o acesso às informações tanto aos estudantes, arquitetos, professores, como a todos os interessados no estudo da arquitetura como manifestação cultural, e colaborando assim para o reconhecimento da qualidade e importância das obras da Arquitetura Brutalista, situando-as em seu momento histórico e analisando-as segundo um enfoque crítico arquitetônico.
 
Imagem: Linha do tempo
Fonte: http://sites.google.com/site/rvzein/

Num momento de grande fragmentação e efemeridade, em que somos cotidianamente encharcados por terabytes de informações, a busca pelo novo tem sido explorada pelos incautos por meio de inomináveis exercícios volumétricos, apoiados nas novas tecnologias de modelagem e renderização, muitas vezes resultando em propostas arquitetônicas frágeis e espaços urbanos homogêneos, corroborando para a construção de uma cidade sem identidade cultural.

Revisitar a escola brutalista paulista é olhar para o nosso passado e fazer as pazes com as nossas raízes. Alejandro Aravena quando esteve no Brasil fez duras críticas a produção arquitetônica brasileira. Numa conversa pessoal com Aravena após a sua palestra no XIII ENGEARQ, em João Pessoa, ele questionou porque havíamos abandonado nossas referências modernistas da época do "Brazil Buildings".

Dentro desta reflexão crítica, a iniciativa de Ruth Verde Zein  transcende as muralhas da academia, nos toma de assalto e nos compele a refazer com ela parte deste percusso na história. Utilizando uma linguagem clara e sintética a professora Ruth  cativa o interesse do leitor, despertando-a para a relevância do tema. 

Certamente este é um dos principais objetivos da pesquisa científica: tornar o conhecimento acessível e engajar o maior número possível de multiplicadores. Nós ficamos aguardando quem irá escrever (disponibilizar) o próximo capítulo.


EQUIPE DA PESQUISA ARQUITETURA PAULISTA BRUTALISTA: 1953-1973



Coordenação: Prof.Dr.Ruth Verde Zein; coordenação dos trabalhos de redesenho CAD: Prof.Mestre Ângelo Cecco Jr. ; apoio de Pesquisa: Prof.Dra.Cecilia Rodrigues dos Santos; aluno bolsista, mestrando PPGAU-Mackenzie: Edson Lucchini Jr.; alunos-bolsistas, graduandos FAU-Mackenzie: Vivian de Freitas Pio, Rômulo Santos Esteves, Laura Teixeira Porto Reis, Thalita Teixeira Ambrogi, Jessica Souza Chamma, Flora Maria Groke Campanatti; alunos voluntários, graduação FAU-Mackenzie: Raphael Ferrari Wittmann, Mariana Fernandes; Pedro Imparato Favale; aluno voluntário, graduação FAU-USP: Eduardo Pompeu Martins; arquiteta voluntária, doutoranda PROPAR-UFRGS: Maribel Aliaga Fuentes.

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Nota



1. Oliveira Júnior é arquiteto graduado pela UFPB, Mestre em Engenharia Urbana pelo PPGEU/UFPB e professor de projeto e urbanismo do curso de arquitetura do Centro Universitário de João Pessoa - Unipê.
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Fonte: http://www.arquiteturabrutalista.com.br

terça-feira, 22 de junho de 2010

Inspetoria do CREA-PB - Concurso nacional
Saulo Rodrigues Coelho e equipe




Imagens gentilmente cedidas pela equipe

domingo, 20 de junho de 2010

O vazio crítico no jornalismo de arquitetura

O que aconteceu com as revistas brasileiras de arquitetura?
Clévio Rabelo¹


Os anos 1980 foram pródigos para a crítica de arquitetura nacional, em especial em face à abertura política que já se vislumbrava. Naquele momento, o debate era animado pela circulação de revistas de arquitetura cujo espaço crítico era valorizado e incentivado. Fizeram carreira no chamado “jornalismo de arquitetura”, personagens de importância singular, como Hugo Segawa, José Wolf, Sérgio Teperman, Anna Regina di Marco e Ruth Verde Zein.




Fotos: José Wolf e Sérgio Teperman

Fotos: Ruth Verde Zein e Hugo Segawa

Podemos falar de uma temática básica no discurso da crítica nacional: uma procura por um sentimento de latinidade na produção nacional e a valorização de trabalhos examinados como regionais, nos quais os dogmas da arquitetura moderna tivessem sido substituídos por um exame mais aprofundado da cultura das diferentes localidades brasileiras. O regionalismo era, portanto, uma saída digna da pós-modernidade que aportava tardiamente no Brasil.

É nesse momento que são colocados na vitrine arquitetos comprometidos com soluções formais menos pautadas pelo racionalismo, com destaque absoluto para Severiano Porto e Zanine Caldas. E na esteira do exame da relação entre tradição e modernidade, uso de materiais e técnicas locais, até Lúcio Costa é redescoberto.

É também nesses idos que a obra arquitetônica, embora reduzidíssima, do mestre é reavaliada, ponderando sobre outra temática do então: qual o papel da arquitetura moderna brasileira, qual o significado de Brasília e o que se estabeleceu como sendo arquitetura pós-Brasilia.



Em um tempo de crise, em que as condições econômicas dificultavam o aporte de livros, as revistas de arquitetura cumpriram um papel exemplar. Elas mantiveram, na dura realidade editorial do Brasil, um esforço questionador sobre a natureza da profissão e da cultura arquitetônica nacional.

Daí pergunto: o que fazemos das nossas revistas hoje? Por um período de tempo razoável, as revistas retiraram da pauta seções críticas, sendo a pouco reatadas. Os websites de arquitetura tem participado desse processo de rediscussão, mas tem o inconveniente de ficarem restritos a um grupo “sedento” de informação. O interessante da revista é surpreender o leitor desinteressado, aquele que se pega lendo sobre Auguste Perret em meio a um sem fim de publicidade.

Mas esse aspecto não pode ser diminuidor do valor editorial das revistas. Ao examinar mesmo os números mais antigos da extinta Acrópole, lá estão sendo vendidos lotes da Cia. City, ou mesmo os requintados móveis da Branco & Preto. Ou seja, numa perspectiva otimista, no futuro, o excesso de propaganda nas revistas atuais será motivo de pesquisa acadêmica, e com certeza dirá muito sobre o momento pelo qual passa a sociedade brasileira.



E conclamo: pesquisadores, utilizemos o espaço das revistas. Seu grande mérito é extrapolar o ambiente universitário, e seu destino, aos poucos a se recuperar, é informar. Agora, informar e formar criticamente. Fazem falta os números especiais, as seções de documentação. Aliás, outro filão que as editoras esqueceram: que tal organizar catálogos com textos de crítica reunidos, números especiais sobre as seções de entrevista, ou mesmo sobre a Documenta. Acredito que surpresas boas poderão surgir.



Talvez um outro olhar sobre a arquitetura nas últimas décadas possa surgir. O que estamos dizendo da arquitetura pós-Sevilha? Talvez seja a hora de reavaliar o papel de uma profissão quase extinta, a do jornalista-arquiteto. E animar jovens profissionais a exercê-la. Eu já digo: presente, professor!


Notas



1. Clevio Rabelo é Arquiteto e Urbanista, formado pela Universidade Federal do Ceará em 2001 e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Fontes:
Artigo originalmente publicação em janeiro 2005 no site:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/05.010/1640

Fotos:
José Wolf e Hugo Segawa (http://www.19cba.com.br/)
Sérgio Teperman (editorasenacsp.com.br)
Ruth Verde Zein (http://www.revistaau.com.br/)

sábado, 19 de junho de 2010

Qual o valor dos serviços de arquitetura?

A QUESTÃO DO PREÇO
ÊNIO PADILHA¹


Um dos principais obstáculos que nós, engenheiros, arquitetos e agrônomos enfrentamos durante nossas negociações com os clientes é a questão do preço.

O leitor mais afoito já deve estar esfregando as mãos, achando que este artigo, finalmente, vai ensinar como lidar com a questão do preço. Mas o que eu tenho a dizer é simples, curto e grosso: esqueça isto. O preço não é um problema que mereça a nossa atenção!

Como assim? Como não é um problema se “todo mundo sabe que os clientes só querem saber do preço!”?

Aí (exatamente aí) é que está o grande engano: a crença, irracional, de que os clientes de engenheiros, arquitetos e agrônomos “só querem saber do preço”.

Não é o cliente que supervaloriza a importância do preço na negociação. Nós é que fazemos isto. Nós é que acreditamos que o preço é um fator determinante para a decisão de compra do cliente quando uma análise mais detalhada mostra exatamente o contrário.

Senão vejamos: tome-se um cliente comum (um dos seus, amigo leitor). Um desses que, na avaliação geral, só se preocupa com preço. Veja o carro que ele tem. É o carro mais barato do mercado? O telefone celular dele? É o mais barato? As roupas que ele usa? O sapato que calça? É tudo comprado em balaio de liquidação? Não? Como assim? Ele não se preocupa só com preço?

E o médico dele? É sempre o recém-formado da hora? O dentista que trata dos dentes dele? O cabeleireiro? o mecânico? A escola onde os filhos dele estudam... O que foi, leitor? Está pensativo? Você começou a se dar conta de que esse cliente, na verdade, só se preocupa com preço quando o negócio é com você?

Então me responda: o que é mais provável, “isso” ou o fato de que, na verdade, o preço não é a questão que determina a decisão de compra desse cliente?

Pense um pouco, leitor. Quais são as coisas que você compra usando o preço como elemento fundamental na decisão de compra? Seu creme dental é o mais barato, suas roupas, sapatos, seu carro, o supermercado onde você faz compras do mês, a cerveja que você bebe no fim de semana... Hmmmm... Se você interromper a leitura agora e fizer uma lista dos produtos que, para você, têm o preço como variável determinante para a decisão de compra chegará à seguinte conclusão:

só existem três coisas que explicam o fato de alguém comprar por preço (utilizando apenas o preço como variável determinante da decisão de compra):

1) quando a pessoa não tem dinheiro para comprar o que gostaria de comprar;

2) Quando não está envolvida diretamente no processo de consumo do produto a ser comprado;

3) Quando acha (está convencida) de que todos os produtos (concorrentes) são iguais.

No nosso caso, os potenciais clientes não se encaixam nem nos dois critérios acima, pois sempre têm dinheiro e, obviamente, estão minimamente interessados no produto final (casa, prédio, indústria, equipamento...) que decorrerá dos nossos serviços. Logo, concluímos que o que o cliente não é sensível ao preço (não quer saber só de preço) o que ele tem e a sensação (convicção) de que os nossos produtos são todos comodities.

Commodity, segundo o dicionário Houaiss, é qualquer bem em estado bruto, geralmente de origem agropecuária ou de extração (mineral ou vegetal) produzido em larga escala mundial e com características físicas homogêneas, seja qual for a sua origem. O termo também define cada um dos produtos primários (café, açúcar, soja, trigo, petróleo, ouro, etc.), cujo preço é determinado pela oferta e procura internacional. Commodities são, portanto, produtos sem diferenciação relevante. Coisas do tipo “água mineral”, “leite em caixinha”, “tangerina-de-beira-de-estrada”...

E desde quando serviço de engenharia, arquitetura ou agronomia é uma commodity?

Aha! Mas aí é que está. O cliente pensa que é. Os clientes, de uma maneira geral, pensam que os engenheiros são todos iguais (o mesmo raciocínio vale para arquitetos e agrônomos). Ora, se todos são iguais, é natural que o preço vire fator determinante para a decisão de compra.

Mas então, meu amigo leitor, o problema não é o fato de o cliente só querer saber do preço. O problema é o cliente pensar que engenheiros são todos iguais. Esse é o problema a ser resolvido. Aprender a fazer guerra de preços não resolve este problema, pois mira no alvo errado.

O que nós precisamos aprender é a diferenciar nosso produto, mudar a percepção do cliente sobre o nosso trabalho e fazer com que ele identifique as diferenças que existem entre os profissionais do mercado.

A execução dessa tarefa tem um nome bastante conhecido: marketing!

Só falta você.


1. Ênio Padilha é engenheiro formado pela UFSC (1986) e Mestre em Administração pela UNIVALI (2007). Autor dos livros "Marketing para Engenharia, Arquitetura e Agronomia" , "Os Pecados de Marketing na Engenharia e na Arquitetura" e "Negociar e Vender Serviços de Engenharia e Arquitetura".

www.eniopadilha.com.br


Fonte: http://www.eniopadilha.com.br/index.php?pg=artigos_detalhe&id=37

Elisana Dantas e Leila D'Ângela

Residência Claudiana Leal


terça-feira, 15 de junho de 2010

Resultado do Concurso ICG/CREA-PB

O IAB-PB, na qualidade de organizador, tem a satisfação de divulgar o resultado do Concurso Público Nacional de Idéias para Elaboração de Projeto Arquitetônico para o Edifício Sede da Inspetoria do CREA-PB em Campina Grande-PB, cujos autores dos trabalhos premiados foram devidamente identificados em Ato Público ocorrido na Sessão Plenária do CREA-PB de 14/06/2010 (às 18h00, no Auditótio do CREA-PB), qual seja:

- 1º Lugar -- Prêmio de R$ 10.000,00 (dez mil reais)
Coordenadora -- Rochelle Rizzotto Castro (Porto Alegre/RS);
Equipe -- Luciano Andrades, Silvio Machado, Andrés Gobba, Mauricio Lopez Franco, Matias Cabral, Alvaro Mendes, Ken Sei Fong, Emiliano Etchegaray, Aldo Lanzi, Belén Garcia, Gabriel Giambiastiani, Nicolas Rudolph, Sebastian Martinez;

- 2º Lugar -- Prêmio de R$ 5.000,00 (cinco mil reais)
Coordenador -- Antônio Claudio Ximenes Massa (João Pessoa/PB);
Equipe -- Antônio Gonçalves de Farias Júnior, Kleimer Martins de Souza, Márcio Andrade Lucena de Araújo, Rafael Montenegro de Queiroz, Tadeu de Brito Melo, Thiago Mateus Santos Bezerra;
Colaboradores -- Arnaldo Pereira de Moraes Júnior, Ciro Othon Costa de Lyra;

- 3º Lugar -- Prêmio de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais)
Coordenador -- Maximiliano Beck (Porto Alegre/RS);
Equipe -- Cauê Duarte Costa, Guilherme Ferreira Nogueira;
Colaborador -- Pablo Brum Morales;
 
- Menção Honrosa
Coordenador -- Leonardo Pinto de Oliveira (Brasília/DF);
Equipe -- Rogério Pontes Andrade;
Empresa -- Oliveira & Andrade Arquitetos Associados.
 
O CREA-PB, promotor do concurso, juntamente com o IAB-PB parabenizam os Arquitetos premiados, bem como seus colaboradores, e agradecem a todos aqueles que participaram deste certame, seja como concorrentes (ao todo foram 22 propostas recebidas na última etapa) ou como organizadores (desde a Comissão Especial de Concurso, Consultoria Técnica e Assessoria Jurídica do CREA-PB, até a Comissão Organizadora do IAB-PB e a Comissão Julgadora IAB/CREA-PB).

Informamos mais uma vez que a Solenidade de Premiação e Abertura da Exposição dos Trabalhos Concorrentes será no dia 01/07/2010 (quinta-feira), a partir das 19h30, na sede do IAB-PB (Largo São Frei Pedro Gonçalves, 02 - Varadouro, João Pessoa / PB), pelo que será uma honra poder contar com a presença dos autores premiados e de todos aqueles que reconhecem a importância deste momento, valorizando a boa prática da realização do concurso público -- a forma mais justa, democrática e lícita -- para a contratação de projetos de arquitetura na execução de obras públicas.

Cordiais saudações,

A Comissão Organizadora
Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento da Paraíba

O pós 19º Congresso Brasileiro de Arquitetos

RECRIAR OU RESGATAR VÌNCULOS
José Wolf¹ 

Com o gancho temático “Arquitetura em transição” aconteceu de 1 a 4 de junho, no Centro de Convenções do Recife, o 19º Congresso Brasileiro de Arquitetos promovido pelo IAB nacional e o IAB/PE, em homenagem ao arquiteto carioca-pernambucano Acácio Gil Borsoi. O acontecimento factual passou, mas a reflexão continua.
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Transição? Do latim transitione, pode significar mutação, transformação ou passagem de um tempo, fase e período para outra fase (fazer). Ou, simplesmente, além-da- ação. Ou seja: ação e pensamento, teoria, cultura. Movi+mento + ação. Parâmetros e fenômenos que se constroem ao longo dos tempos.

Aliás, em sua palestra, o aplaudido holandês Ole Bouman convocou os arquitetos a transformarem palavras em ação, advertindo, porém, que as novas respostas não serão, com certeza, as mesmas de outros tempos.

Marco Antonio Borsoi, ao apresentar o projeto do Museu da Arqueologia de Suape, PE, defendeu uma arquitetura capaz de somar a memória do passado à construção do presente, em busca de um futuro sustentável e desejável. A exemplo de um dólmen, de uma “mesa de pedra”, que abrigava rituais e cultos aos deuses, que nos poderá proteger, também, de nossa fragilidade frente à fragmentação e desacralização da era global , que continua colocando de escanteio o passado e a história.
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Mobilização - Com a presença de arquitetos, urbanistas e historiadores europeus,brasileiros, como o britânico Joseph Rykwert, o italiano Bernardo Secchi, o holandês Ole Bouman, a inglesa Justine Fox, o festejado Pritzker Paulo Mendes da Rocha , além do chinês Yung Ho Chang e do avis rara latino-americano paraguaio Solano Benìtez, o encontro mobilizou mais de três mil participantes inscritos vindos de todas as partes do país, sendo 1.200 de Pernambuco.
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Competência e ausência – O evento surprendeu pela competência de sua organização pilotada pela guerreira Vitória Régia de Andrade, ao lado do centrado Bruno Ferraz e o indomável Roberto Montezuma, além de uma competente equipe de apoio.

Alguns, como o argentino Ignacio Arsol, ex-estagiário do escritório de Oscar Niemeyer, lamentaram a ausência de outros nomes latino-americanos, a exemplo dos jovens Alejandro Aravena e Alberto Mozó, do Chile, que poderiam aquecer a pauta temática. E, também, do explosivo sertanista e cosmopolita Expedito de Arruda, cujo nome foi relembrado por muitos, em meus contatos, com participantes como o jovem Davi de Lima e a combatente Tereza Simis Borsoi.

A lamentar, também, a ausência do prof. Orlando Villar, da Universidade Federal da Paraíba, reponsável, apesar de tantos desafios, do Encontro de Arquitetura e Engenharia/PB, que teve a coragem de trazer para o Nordeste arquitetos como Mario Botta, Àlvaro Siza, Eduardo Souto Moura, Enrique Norten, Juvenal Baracco etc.

Corações e mentes - Com uma arquitetura inventiva e criativa, num país estigmatizado, reciclando sistemas construtivos tradicionais, como o do alvenaria, o paraguaio Solano Benítez encantou corações e mentes dos jovens, entre os quais, o jovem paraibano Oliveira Jr., responsável pelo elogiadíssimo blog arqPB, que, a duras penas, vem divulgando a arquitetura nordestina tão esquecida pela mídia do Sul.

Além disso, Solano deu exemplo de sensibilidade e humildade, ao falar em espanhol despacio(devagar), pedindo a ajuda da platéia quanto aos termos técnicos em português. Ao contrário de outros , de origem espanhola ou italiana, para a decepção do público, que preferiram apelar para o inglês.
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A cerimônia de abertura, com as palavras simpáticas de boas-vindas de Vitória Régia Andrade, presidente do IAB pernambucano, foi realizada na igreja Madre de Deus, no centro histórico do Recife. Durante a qual, o arquiteto carioca, agora cadeirante, Luiz Paulo Conde recebeu o colar de ouro do IAB, em meio a uma calorosa salva de palmas.

Ali, também, tomou posse o novo presidente do IAB nacional: Gilson Paranhos, de Brasília, eleito durante o 134º Cosu, prometendo um IAB mais participativo , em defesa da cidadania e do profissional de Arquitetura. E pela “carta de alforria”do IAB, com a aprovação do independente CAU-
Conselho de Arquitetura e Urbanismo, tantas vezes prometida, mas até agora...nada..

Diversidade - A grade do evento incluiu uma diversificada bateria de palestras, exposições, mesas-redondas, oficinas e apresentações da produção autoral de vários arquitetos, incluindo os paulistas Mario Biselli, Carlos Bratke, Marcelo Ferraz, Bruno Padovano Ovídio Pascual, o paraibano Gilberto Guedes, autor do novo edificío do Conselho de Medicina de João Pessoa (que foi capa da AU 158), o mineiro João Diniz, os pernambucanos Carlos Fernando Pontual e o filho do consagrado Delfim Amorim, Luiz Amorim, autor do livro “Obituário arquitetônico/Pernambuco modernista”.uma espécie de “Sociedade dos poetas mortos”de esquecidos arquitetos pernambucanos dos anos 40 e 50..

Momento mágico - Uma mesa-redonda histórica composta pelos arquitetos Marco Antonio Borsoi, Gilson Gonçalves, Fernando Diniz, pelo crítico Hugo Segawa e pelo jornalista J.Wolf, destacou a importância da obra de Borsoi no cenário da arquitetura brasileira.

Ao colocar a fita com a gravação de uma entrevista feita com Borsoi, nos anos 90, em meio ao silêncio de uma platéia de três mil participantes, muitos começaram a chorar. Sem dúvida, foi um momento mágico, inesquecível, reconheceu Nadia Somekh, da Universidade Mackenzie, ao cruzar comigo no võo 3505 da volta para São Paulo, pela TAM.

Desafios: passado versus futuro - Para onde, enfim, caminha a Arquitetura e a cidade do século XXI , reféns da globalização, da fragmentação e das fachadas cinematográficas sem vínculos com nossa realidade ?

Ao abrir a série de palestras, o historiador Joseph Kykwek, citando Vitrúvio, lembrou, que “a casa é uma pequena cidade e a cidade, uma grande casa”, mas cada vez mais distantes uma da outra em função das novas condições urbanas e sociais.”As pessoas já não dialogam mais com os edifícios nem os edifícios com as pessoas”, lamentou.

Passado? Ao apresentar o projeto do Museu Arqueológico de Suape, PE, em parceria com Tereza Simis Borsoi e equipe, como o franciscano Luiz Augusto de Assis, Marco Antonio Borsoi, a meu ver um dos teóricos não-acadêmicos mais brilhantes da Arquitetura brasileira atual (pois, ele faz e pensa, ao contrário de muitos acadêmicos), referiu-se ao dilema entre o passado e o futuro da era globalizada, fragmentada, que continua a virar as costas para os arquétipos em nome de um futuro sem identidade. O dilema entre a permanência, a história e o transitório, o fugaz.

“À idéia de um edifício para exposição arqueológioca – explicou – estamos propondo uma forma arquitetõnica que remonte às origens, à transformação do território em paisagem humana, de um espaço definido pelo grande mé- garon micênico. Ou seja: de um lado, o relato mítico, de outro, o discurso lógico, racional, da reconstrução da história”, para concluir:.

Se esquecermos da história, “podemos correr o risco de produzirmos uma arquitetura datada, com prazo de validade vencido”, advertiu..

Indagações - Enfim, no rastro dessa maratona cultural inesquecível de quatro dias, houve poucas respostas, mas restam muitas perguntas e indagações que, com certeza, com o tempo serão esclarecidas e respondidas. Por exemplo:

Quais serão, afinal, o papel e a função do arquiteto e da Arquitetura neste século, que chega a esta década marcado por tantas tragédias ecológicas, crises econômicas e incertezas? Como definir a responsabilidade social do arquiteto numa sociedade marcada, ainda, pela exclusão?

Qual o perfil de um escritório de Arquitetura, hoje: um promotor de cultura ou uma agência de negócios? E o Ensino: como repensar os modelos e currículos de Ensino de acordo com as novas necessidades e demandas do ser humano, como acessibilidade, ecologia, ergonomia, mobilidade urbana, habitação e qualidade de vida?

Como conjuminar a cidade formal com a cidade informal, a cidade oficial e a cidade real? Como se livrar das imposição do mercado imobiliário, que continua na realidade a ditar as regras das tendências arquitetônicas?

Qual a relação entre a Arquitetura formal e a virtual, o espaço físico e o digital?

Como resolver, enfim, o conflito entre desenvolvimento, economia, globalização, ecologia e sustentabilidade, que implicaria novas formas de se fazer, projetar, ver e viver?

Talvez, a resposta esteja no recado de Ole Bouman, ao defender, que no meio dessa parafernália de objetos, produtos, dejetos, propagandas, promessas e invenções cibernéticas e da ideologia do consumo, a grande transição seria “ resgatar e recriar novos vínculos”. Vínculos com o lugar, com a cidade, a Arquitetura, com as pessoas e a natureza, o passado, o presente e o futuro. E, ao projetar, se inspirar nos problemas das cidades em lugar de temê-los ou evitá-los! Afinal, somos a favor do quê?

Dessa atitude, poderá surgir, sem dúvida, uma nova era de transição, na qual os arquitetos voltarão a ser novamente aprendizes! A exemplo de Acácio Gil Borsoi, um mestre eternamente aprendiz!

1. José Wolf é jornalista, co-fundador da Revista AU e atual editor do boletim do IAB-SP

Inspetoria do CREA-PB em CG - 2º lugar

O experiente arquiteto paraibano Antonio Cláudio Ximenes Massa e os jovens Antônio Farias Júnior, Kleimer Martins, Márcio Lucena, Rafael Queiroz, Tadeu de Brito e Thiago Bezerra foram agraciados com o segundo lugar no Concurso Nacional para o Projeto da Inspetoria do CREA-PB em Campina Grande.
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Antônio Farias, Márcio Lucena, Kleimer Martins, Antonio Cláudio X. Massa e Tadeu de Brito em plena atividade criativa nas madrugadas que antecederam a entrega da projeto.
Foto: Rafael Queiroz

 
Márcio Lucena, Kleimer Martins, Thiago Bezerra, Rafel Queiroz e Tadeu de Brito no CREA-PB após a solenidade de divulgação dos vencedores do concurso.
Foto: Oliveira Júnior
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O partido modernista evoca o caráter monumental, a sobriedade e a elegância adequadas a um edifício institucional. Sua implantação em diagonal valoriza a esquina e cria um empraçamento que dialoga com a rua e a calçada e faz a transição entre o espaço público e o "privado" do edifício.
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Para maiores informações e detalhes clique nas pranchas para ampliá-las.



 

 








FICHA TÉCNICA
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CONCURSO NACIONAL SEDE CREA-PB EM CAMPINA GRANDE PB
PREMIAÇÃO: SEGUNDO LUGAR
ARQUITETOS ANTÔNIO CLÁUDIO MASSA, ANTÔNIO FARIAS JR, KLEIMER MARTINS, MÁRCIO LUCENA, RAFAEL QUEIROZ, TADEU DE BRITO E THIAGO BEZERRA.
COLABORADORES ARNALDO PEREIRA JR E CIRO OTHON
LOCAL CAMPINA GRANDE PB
ANO 2010