sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Arquitetura

COMPETÊNCIA COM SALTO ALTO

(em homenagem à inesquecível Jussara Dantas, à valente Nelci Tinem e, por extensão às anônimas e lutadoras arquitetas paraibanas, que se entrelaçam com outras penambucanas)

Arquitetas talentosas, que desenvolvem um trabalho diferenciado, silencioso e competente, mas infelizmente nem sempre divulgado e discutido pela mídia como seria desejável

(enfim)!
*

Atenção, srs. Arquitetos, abaixem as armas do poder acadêmico machista! Afinal, as mulheres relegadas ao longo da história à condição de “sexo frágil”, vítimas de violência e discriminadas, estão chegando, revelando-se, cada vez mais poderosas, criativas e diferenciadas, na vida política, à frente da gestão e administração de negócios. E, inclusive, na Arquitetura, conquistando espaços de um território outrora dominado praticamente pelo sexo masculino.

De acordo com o Censo do IBGE de 2010, o número de mulheres, no Brasil, atualmente, supera o dos homens, que até o ano 2000 dominava o mapa demográfico brasileiro: agora, são mais de 400 mil a mais que o dos homens. Além disso, são elas que revelam maior expectativa de vida: 77 anos contra 69 dos homens.

Mulheres? A propósito, lembraria reportagem escrita para o extinto “Jornal do Brasil” impresso, nos anos 60, onde trabalhei, através de uma chamada polêmica, que virou até slogan da propaganda de um perfume: “Mulher, seja homem!”. Matéria inspirada no movimento feminista pilotado no Brasil pela escritora Rose Marie Muraro em defesa das mulheres, na época tão discriminadas, profissionalmente. De lá para cá, muita coisa mudou, a favor da mulher, conforme comprovam fatos e eventos recentes.

Na vanguarda - à frente desse movimento de alforria feminina, destacaria, pra começar, o nome de Carmen Portinho, companheira do histórico Affonso Eduardo Reidy. Ao lutar contra preconceitos machistas, foi a terceira mulher brasileira a diplomar-se em Engenharia, participando ativamente da fase de vanguarda da arquitetura brasileira.
Carmem Portinho

Com coragem, venceu o preconceito existente nos meios profisssionais, quando muitos indagavam: quem disse que a mulher entende de futebol, de negócios ou de construção? Até que chegou a hora da virada...

E, dentro de minha maneira de análise crítica, não poderia de me esquecer do filme “Todas as mulheres do mundo ”, de Domingos de Oliveira, cujo personagem central – a atriz Leila Diniz - se tornou símbolo da libertação sexual da mulher brasileira.

Às mulheres, o poder - A brasileira Dilma Rousseff soma-se ao grupo seleto de 16 países governados por mulheres. Entre outras, Michelle Bachelet (Chile), Violeta Chamorro (Nicarágua), Cristina Kirchnan (Argentina), Angela Merkel (Alemanha) etc.

Conforme as classificou a machete do jornal diário de s. paulo, são as novas “poderosas”, contribuindo, oxalá. para um mundo mais justo, humano e afetuoso. Dilma, por sinal, ao assumir a faixa presidencial, avisou, convicta “a mulher é coragem, mas é carinho, também”!

A eleição da primeira presidente do Brasil, não incluindo a atuação política da princesa Isabel, motivou este texto em homenagem à inesquecível guerreira Jussara Dantas, cuja ação deveria inspirar um movimento de arquitetas paraibanas em defesa de seus direitos e emancipação profissional..

Para a história – registro do coquetel em homenagem a Mario Botta, na residência de Telma e G. Guedes, em novembro de 2001.


Ao conhecer Jussara participando, na condição então de editor da revista AU, a convite, de um dos primeiros encontros do Engearq promovidos pelo incansável mestre Orlando Villar, ela me recebeu com muito carinho e altivez..

Ao longo de outros encontros, cruzei com outras arquitetas antenadas e sensíveis, que atuam na Paraíba, como Bethânia Tejo, Dayse Cunha, Sandra Moura, Izabel Villac, Rosana Honorato, Amélia Panet, Rosana, Elisana Dantas e Leila Dángela, Larissa Vinagre, Ísis Almeida, Sílvia Muniz, Débora Julinda, Aline Montenegro, Rafaela Di Lacio, Jane, etc. Indiretamente ligada ao meio destaco a sensível oftalmologista Telma (esposa do arquiteto Gilberto Guedes), que organizou coquetéis inesquecíveis em homenagem a arquitetos estrangeiros convidados do Engearq, entre os quais, os festejados Mario Botta e Álvaro Siza.

Ponto de partida - Mas, a primeira arquiteta a conhecer, na capital paraibana, foi a valente Nelci Tinem, que atualmente pilota uma extensa pesquisa sobre a historiografia da arquitetura paraibana. Na época, anos 86, ela coordenava com Carlos Martins, da USP-São Carlos, um dos primeiros seminários sobre a Arquitetura brasileira contemporânea, em João Pessoa, do qual tive o privilégio de participar, na condição, então, de editor da revista AU. Foi, quando conheci arquitetos que se tornariam ícones para muitas gerações de arquitetos, destacando-se entre tantos, Amaro Muniz e o revolucionário condottiere Expedito de Arruda , que mudou, sem dúvida alguma, o viés da história da instigante arquitetura paraibana contemporânea..
Além disso, não poderia me esquecer de arquitetas pernambucanas que atuaram ou atuam, também, no generoso e diversificado mercado paraiabano. Pra começar: a inesquecível Janete Costa, a divina arquiteta de interiores, que valolizou a arte de tantos artesões nordestinos anônimos.

Nelci Tinem


Não poderia deixar de registrar a atuação do escritório Arquitetura 4, do Recife, composto nos anos 80 pelas arquitetas Vera Pires, Clara Calabria e Carmem Mayrinck. Carmen, por sinal, acabou me revelando, quando passei por Olinda, o caminho da mina: o do Nordeste tão esquecido pela mídia especializada do Sul.

Competência com rímel e batom. Ao revisitar o ranking de projetos premiados, em 2009, pelo IAB/PB publicados pelo blog arqPB, percebi, para minha agradável surpresa, a participação marcante de um grande elenco de arquitetas, cada vez mais presentes no cenário arquitênico nodestino. Entre elas (sem ordem cronológica) : Sílvia Muniz, Sandra Moura, Carolina Marques, Christiane Caldas, Leila D`Angela, Larissa Vinagre, Suellen Montenegro, Isis Almeida, Mércia, Parente, Ana Lúcia Abrahim, Patrícia Gouvêa e a astral Lívia Loureiro, da competente equipe 7S34W. Sem me esquecer, é claro, da poderosa pernambucana Vera Pires, Melânia e Kátia Avellar. E de Roberta Borsoi, autora do mausoléu do roqueiro Chico Science, colaboradora de sua mãe, Janete Costa, no projeto de arquitetura de interiores do Verde Hotel, em João Pessoa.

Vera, ex-integrante do grupo Arquitetura 4, mantém-se, segundo Zeca Brandão, uma expressão viva da atual arquitetura pernambucana, que estaria atravessando um momento de acomodação, depois de viver uma fase efervescente de inovação. Recentemente, ela e seu sócio Roberto Ghione lançaram no mercado paraibano o empreendimento empresarial Acácio Gil Borsoi desenvolvido dentro de princípios da arquitetura sustentável.

O toque diferenciado – Afinal, qual o toque diferenciado entre um projeto desenvolvido por uma arquiteta e outro por algum arquiteto?

Conforme Lívia Loureiro, o diferencial passa pela capacidade de sintetizar, por meio de um olhar sensível, toda a problemática projetual!

Lívia Loureiro


Para a arqueóloga e arquiteta pernambucana Tereza Simis Borsoi, que abriu tantas vezes a porta de sua casa para hospedar amigos e forasteiros de outros Estados do Nordeste e do Sul, como Roberto Segre, Mauro Neves, Jauregui, Padovano ou Sérgio Teperman , além de ajudar moradores de uma área de invasão, onde construiu sua casa, o que me motivou a chamá-la de “madre Tereza do Recife”, há, sem dúvida, algo diferente entre um projeto “masculino” e um “feminino”. Assim, para Tereza, o grande diferencial entre um e o outro, estaria na sensibilidade. “O arquiteto preocupa-se muito mais com a volumetria, a massa, enquanto a arquiteta, com o interior, o coração , o útero do projeto”, enfatiza.

Conselho de amiga - Para complementar, relembraria a atuação da fantástica Lina Bo Bardi que, para escândalo de muitos, fazia questão de autodefinir-se de arquiteto E do conselho da premiadíssima arquiteta paulista e ex-coordenadora editorial do Boletim do IAB/SP, Lílian Dal Pian registrado na matéria “Competência com rímel, batóm e salto alto” publicada na ex-revista “Mais”.

(ou seja):

“Arquiteta, mantenha-se sempre antenada e informada sobre novos produtos, tendências e soluções tecnológicas; atualize-se, frequentando cursos, expósições e seminários: procure conquistar novos clientes, mas sem se esquecer dos clientes antigos; mantenha sempre uma equipe eclética, com profissionais jovens e experientes ; viaje muito para conhecer outros projetos ; não seja afoita e, finalmente, procure mais ouvir que falar”!

Sugestão – Para concluir, deixo aqui minha sugestão: que tal, prof. Orlando Villar, organizar um minifórum ou um Engearq direcionado às mulheres. A chamada poderia ser: Arquitetura e Engenharia/ Com a palavra, as mulheress! complementado por um gancho temático tipo “Além do salto alto e do batom”!

Com certeza, o Ibope estaria garantido num momento delicado que atravessa o país, quando se desenha um novo cenário de demandas e desafios sociais na área da Arquitetura, da Engenharia e do Meio Ambiente....

José Wolf
Contato: (011) 322255 08

Um comentário:

  1. Hoje ninguém mais duvida desse talento que ótimo, pois as mulheres são PODEROSAS!

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